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Ártemis, Diana e a Luacover

Ártemis, Diana e a Lua

CLARA CALDEIRA

 

Era um dia quente de verão. As horas escorriam, úmidas. 

 

Magnética, ela me atraiu. Da maneira mesma que faz com a terra. Corpórea, concreta. A Terra, eu. A força gravitacional não deforma matéria sólida. É o que dizem. Mas seu efeito sobre o que é molhado, e se movimenta com liberdade, é arrebatador. 


Como as marés, como o sexo.

 

Ela chegou suada. O termômetro indicava 35 graus passados. Fui buscar um chá gelado para aplacar os calores de fora. Sentamos lado a lado, no chão do quintal, à sombra do limoeiro, e perguntei seu nome. 

 

“Ártemis”, apresentou-se. “Deusa grega da lua e da caça, da natureza selvagem e da magia, da liberdade feminina, da fertilidade e dos partos.” 

 

 

Mas ela me disse que trazia em si todos os nomes do mundo, e que eu deveria chamá-la com palavra que me fizesse sentir sua força.

 

 

“Diana, entre os romanos, também posso ser chamada de Opis, mas tenho ainda muitas palavras em mim. Vou te contar minha

história.”

 

Então ela me disse que nasceu de um adultério. Que sua mãe, Leto, seduzida por Zeus, senhor dos céus, engravidou. Teve assim de fugir da ira e do ciúme da esposa traída, Hera, que proibiu todas as terras de abrigarem-na. Leto percorreu o mundo inteiro até encontrar refúgio na ilha flutuante de Delos, que não era terra alguma.

 

 

Ali, no balanço das águas, Leto deu à luz, sozinha, a Ártemis, que, acabada de sair do ventre da mãe, ajudou-a no parto do irmão gêmeo, que veio logo em seguida. Era ele Apolo, o sol.

 

 

Ela me contou também que com apenas três anos de idade, sentou-se um dia no colo do pai, todo poderoso, e fez-lhe seis desejos. Entre eles, que tivesse muitos nomes, para diferenciar-se do irmão; manter-se sempre ‘virgem’, desobrigada do casamento; que fosse livre para caçar e que tivesse sessenta filhas e vinte ninfas como companheiras, para ensiná-las a andar pelas florestas. Por fim, pediu o poder de ajudar as mulheres em suas dores, como fez no parto da mãe.

 

Olho para o lado e percebo, sem sobressalto, que no lugar da mulher de túnicas claras está agora um vaso. E ele fala comigo.
“Também posso ser planta, sabia?”
 

Eu respondo que sim e que se, enquanto planta, chama-se Artemísia, eu já ouvira falar inúmeras vezes de suas façanhas. Digo que, há alguns anos, cheguei a marcá-la no corpo, na coxa direita, feito tatuagem. Como uma lembrança do poder da planta, mas também da mulher.

 

 

Ela sorri em sinal de aprovação. Como quem diz, sem dizer, que, mesmo sem saber, eu entendi tudo. 

 

 

Artemísia me disse carregar consigo magias e mistérios. Em suas folhas, flores e em sua história. Diversa e mutante, revelou guardar em si poderes, mas também amargores. Potente e curativa, confessou-se também tóxica e mortal.

 

 

“Erva da vida, das bruxas, deusa das plantas, cânfora de jardim, macela-do-reino, camomila-pequena, margaridinha, lombrigueira, losna-brava, erva-de-são-joão. São muitos os meus nomes. Sou muitas.”, ela me disse.

 

 

Eu respondi que somos.


 

Sagrada para os orientais, Artemísia contou ter até mesmo um tempo no calendário chinês dedicado a ela, que inicia em 5 de maio. Gabou-se de aliviar dores, febres, espasmos, combater vermes, convulsões, acalmar os ânimos e fazer verter águas e forças represadas nas mulheres, como o sangue menstrual, como bebê que vem ao mundo em parto difícil.

 

 

 

A fada verde

 

 

Viveu tempos conturbados no século 19 e início do 20, quando foi acusada de intoxicação e até de morte, aparentemente provocadas pelo uso de um “licor”.

 

 

A confusão começou quando Dr. Pierre Ordinaire (1741-1821), médico francês exilado na Suíça, criou um suposto remédio “cura-tudo”, apropriando-se de seus poderes. Colheu em campos suíços ervas que só conhecia nos livros e fabricou uma poção composta por 16 elementos, entre eles, e em maior concentração, artemísia. O “licor de absinto” passou a ser usado como alucinógeno por artistas, boêmios e intelectuais e ficou famoso com o nome de “Fada Verde”. 

 

Artemisia absinthium, é um dos meus nomes mais famosos. La fée verte, muito prazer!”, debochou.
 

As artes não seriam as mesmas sem ela, e ela sabia. Alucinógena e psicodélica, tornou-se uma anti-heroína. Uma espécie de fada-bruxa padroeira da Belle Époque. Participou de movimentos artísticos como o simbolismo, o impressionismo, o surrealismo e o cubismo. Levou muita gente à loucura. Convidou a longas viagens sem destino nem retorno nomes como Toulouse-Lautrec, Baudelaire e Van Gogh.

 

 

Não foi por falta de aviso. As mulheres há muitas eras sabiam de seus poderes e perigos. 

 

 


A arqueira


 

Olho de relance para o vaso e ele não está mais lá. Ao meu lado, reclinada sob a sombra do limoeiro, está agora uma outra mulher, que é a mesma. Longos cabelos negros, um arco nas costas e, na cintura, um amontoado de flechas atadas em flor. 

 

 

“Sou Diana, caçadora poderosa de habilidades e forças inigualáveis. Eu e minhas companheiras sofremos muitos ataques na floresta. Violências, estupros. Mas não nos calamos, jamais!”  

 

 

Ela me contou com ressentimento que seu próprio pai, Zeus, estuprou a ninfa Calipso, parte de seu bando, por quem estava perdidamente apaixonada.

 

 

Certa feita, surpreendida no banho por Actéon, sofreu ela mesma também uma tentativa de estupro. Longe de suas flechas, deixadas na margem do rio, concentrou-se e transformou Actéon num cervo, que fugiu apavorado e terminou devorado por seus próprios cães de caça.

 
 
“Outros homens e meninos que tentaram me violentar eu transformei em mulheres. Creio que estão melhor assim”, disse triunfante.
 

Teve também Alfeu, um deus do rio, que, enamorado, tentou capturá-la. Em outra ocasião, Alfeu tentou ainda estuprar sua ninfa protegida, Arethusa, a quem salvou transformado numa fonte, que fica hoje na Sicília. Bouphagos, filho do titã Jápeto, também fez sua tentativa e terminou em maus bocados, assim como o gigante Órion a quem enviou um escorpião gigante em vingança, façanha eternizada numa constelação. Vieram ainda Otos e Efialtes, a quem Ártemis (Diana? Já não importa), com sua astúcia, fez matarem-se um ao outro, e Agamenon de quem livrou Ifigênia, que se tornou uma de suas companheiras imortais.

 

 

Como a maioria das mulheres, ela sofreu muitas violências. Destemida e habilidosa, salvou muitas de suas companheiras. Aprendeu a ser temida, aterrorizante e disseminou sua arte da guerra também.

 

 

 

A última a cair

 

 

Com Ártemis, que é também a Lua, aprendemos a ser selvagens e livres. Aprendemos a não nos calar e a lutar por nossas irmãs com o arco, a flecha e a inteligência. Aprendemos a fabricar nosso próprio veneno para renascer, depois de envenenadas por tóxicos alheios.

 
Ártemis, ou Artemísia, é um arquétipo que fala do corpo. Do corpo pulsante, instintivo, livre. 
O sexo em Ártemis é complexo e profundo. Para ela, todas as partes do corpo tem o mesmo valor. O sexo em Ártemis é feito com o corpo inteiro, a mente e o espírito. Precisa do frescor da selva, do pé descalço sobre a terra. O prazer de conquistar, mesmo que pela força, autonomia e liberdade. 
 

Ártemis fala dos instintos ativos, nos avisa dos perigos que ameaçam nossa plenitude. Fluxo livre de energias, domínio do espaço ao redor, o acúmulo de milhões de anos de sabedoria que vive em nossos corpos, enraizado. Defensora dos animais, do meio-ambiente, das comunidades de mulheres. Ártemis é capaz de matar por uma irmã.

 

 

Palmira Margarida, historiadora e especialista ervas, ensina que Ártemis trabalha a proteção e o renascimento dos abusos que a sociedade patriarcal impõe às mulheres. Em Roma, enquanto Diana, teve como devotos gente de baixa renda. O culto dos campesinos nos cantos mais ermos e afastados fez com que fosse a última deusa a ser derrubada pelo cristianismo.

 

 

Ártemis resistiu, escondida nas matas, com a ajuda das gentes da terra. 

 

 

Ártemis foi a última a cair. 

 
É verão. Tinha eu um encontro marcado com o sol, mas fui tragada pela lua. 
E foi ela quem me ensinou que o calor verdadeiro vem de dentro e não de fora. Não depende das estações do ano, tampouco do sol.
É para ela que uivamos, é ela que nos tira o sono e nos faz escalar paredões de pedra em noite de maré alta. É ela quem movimenta nossas águas, nos dias mais quentes e também nos mais frios.
Diana, Ártemis, Lua, Selene, Opis, Artemísia. São diversos os seus nomes e são muitos os seus poderes. Assim como a natureza, assim como nós. 
 

Então, estou sozinha. No quintal, só eu e a brisa quente do fim da tarde. A noite se aproxima. Olho pra cima e vejo-a despontar. Redonda, completa, magnética. Já não alimento miragens criadas pelo calor sol. 

 

 

Nua, me entrego à Lua. Selvática, selvagem, instintiva, diversa. Livre. 

 

 

Ela, eu… Você, nós.

 

 

 

 

ATENÇÃO: Mulheres grávidas não devem usar artemísia. 

 

 

Referências:

 

A Mitologia na Vida Cotidiana (Assela Alamillo)

 

As mulheres guerreiras: erva artemísia (Palmira Margarida)

 

Artemísia - Uma “Planta Mágica”? -* 1ª parte (Geni Mafra Souza)

 

O Livro de Ouro da Mitologia ( Thomas Bulfinch)

 

Mitologia - guia ilustrado Zahar (Philip Wilkinson)

 

Plantas Aromáticas (Igor Francisco Von Hertwig)

 

O Universo, os deuses, os homens (Jean-Pierre Vernant)

 
CLARA CALDEIRA

Leitora, escrevedora, bruxa e jornalista, dedica-se atualmente a pesquisas em saúde pública, corpo, comunicação, gênero e meio ambiente. Editora-chefe do Hypeness, e ex-editora no Catraca Livre, circula ativamente há 15 anos pelo ambiente digital, flanando por temas como cultura, meio ambiente, cidadania, direitos humanos, tendências, tecnologia e inovação. Participou de projetos de reportagens, documentários, branded content, mobilizações sociais e formações diversas com ONGs, instituições culturais e publicações digitais variadas. 

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